Um mês após queda da ponte entre TO e MA, caminhoneiro que perdeu esposa fala de trauma e saudade: 'Tentando esquecer essa dor'

  • 22/01/2025
(Foto: Reprodução)
Tragédia completa um mês e três pessoas seguem desaparecidas. Mergulhos estão suspensos por causa do aumento no nível do Rio Tocantins e ainda não há data para começar a travessia de balsa no local. O caminhoneiro José de Oliveira Fernandes perdeu a esposa Andreia Maria de Souza na ponte Arquivo Pessoal/Corpo de Bombeiros Nesta quarta-feira (22) o desabamento da ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, que liga as cidades de Aguiarnópolis (TO) e Estreito (MA) pela BR-226, completa um mês. Nesse período, 14 corpos foram resgatados das águas do Rio Tocantins, mas as famílias que perderam entes queridos enfrentam o desafio de conviver com a saudade. 📱 Participe do canal do g1 TO no WhatsApp e receba as notícias no celular. É o caso do caminhoneiro José de Oliveira Fernandes, marido de Andreia Maria de Souza, de 45 anos. Ela dirigia o veículo carregado com ácido sulfúrico que despencou com a ponte. O corpo dela foi retirado do rio no dia 24 de dezembro, véspera de Natal. "Há pouco tempo que a gente tava morando junto, ia fazer três anos. A gente ia casar agora, esse mês de janeiro. Mas infelizmente os planos de Deus foram outros. Então a gente está tentando se conformar, a gente está tentando esquecer um pouco essa dor", comentou. A ponte caiu por volta das 15h do dia 22 de dezembro de 2024. O vão central cedeu levando ao fundo do Rio Tocantins dez veículos, entre carros, motos e carretas. Como se não bastasse a tragédia, as carretas que caíram no rio estavam carregadas de defensivos agrícolas e ácido sulfúrico, o que impediu as buscas submersas nos primeiros dias. Bombeiros e a Marinha resgataram os corpos de 14 vítimas, mas três pessoas continuam desaparecidas. O único sobrevivente da tragédia é Jairo Silva Rodrigues, de 36 anos (veja mais abaixo quem são as vítimas). José, que mora na cidade de Brotas (SP), contou que durante esse mês tentou enfrentar a saudade da esposa e que ainda não conseguiu voltar a trabalhar. "Minha vida não está sendo muito fácil. Não estou conseguindo voltar a trabalhar, está difícil, muito pensamento, saudade grande, e a gente fica com um pouco de trauma. Estou com um pouco de trauma e, por enquanto, eu tô sem condições de trabalhar. Saio um pouco, ando, mas não tem jeito. Saudade bate. Está sendo muito difícil, muito difícil mesmo", lamentou, contando como passou o último mês. O caminhoneiro também contou que os pais de Andreia seguem muito abalados com a perda da filha, e que ele conversa diariamente com os sogros. Para tentar voltar ao cotidiano mesmo sem a esposa, que era colega de profissão, José contou que está recebendo apoio da empresa e que, apesar do trauma, pretende voltar ao trabalho no fim deste mês. Porém ele sabe a falta que a esposa vai fazer no dia a dia. "Ela era uma pessoa maravilhosa, divertida, calma. As lembranças boas que vão ficar. Uma pessoa que me ajudava, batalhadora. A gente estava conquistando muita coisa junto. Era uma pessoa que dava força, ajudava muita gente. Uma pessoa maravilhosa, que está fazendo e vai fazer muita falta para mim. Era tudo para mim", lamentou. Mergulhos suspensos Desde o dia do desabamento as buscas tiveram início a princípio na superfície do rio. A primeira vítima localizada sem vida foi Lorena Ribeiro Rodrigues, de 25 anos. Ela era natural de Estreito (MA) mas morava em Aguiarnópolis (TO). Como três carretas caíram com os defensivos e ácido sulfúrico, os corpos que não apareceram na superfície só foram encontrados três dias depois, com a liberação dos trabalhos dos mergulhadores. Muitos estavam presos nos veículos e nos escombros da ponte, mas foram retirados da água e entregues às famílias. Passado um mês do acidente, equipes da Marinha do Brasil e dos bombeiros seguem as buscas para tentar encontrar Salmon Alves Santos, de 65 anos e Felipe Giuvannuci Ribeiro, 10 anos, avô e neto que estavam em uma caminhonete. Além deles, Gessimar Ferreira da Costa, de 38 anos, também segue desaparecido. Mas os mergulhos no Rio Tocantins estão suspensos devido à abertura das comportas da Usina Hidrelétrica de Estreito. "A empresa de energia teve que liberar uma quantidade grande de água pelos vertedouros, pelas comportas também, para diminuir o nível da água, baixar o nível da água no reservatório. Então, até para a própria segurança da barragem, é um procedimento que foi necessário. E esse grande volume de água aumentou bastante o nível do rio no local dos mergulhos, então o que impede a realização de mergulho pela forte correnteza e pelo nível de se ter subido bastante. Por enquanto, está suspensa atividade de mergulho", afirmou o tenente-coronel dos bombeiros do Tocantins, Nilton Rodrigues Santos. Apesar da suspensão, o tenente-coronel afirmou que as equipes vão continuar no local para que os mergulhos sejam retomados quando o nível de água baixar. Sobre a retirada dos materiais agrotóxicos e ácido sulfúrico que ainda estão no fundo do rio, o tenente-coronel afirmou que a empresa que é responsável pelos produtos contrataram outras empresas especializada nessa área de produtos perigosos para coordenar as ações de retirada. LEIA TAMBÉM: Veículos que estão em cima de ponte entre o TO e o MA devem ser retirados até o fim da semana, diz DNIT Justiça Federal determina retirada de carro que ficou preso em fenda após ponte desabar entre TO e MA 'Estarmos aqui é um milagre', diz mulher que ficou com carro preso em fenda após ponte entre TO e MA desabar Ponte entre MA e TO: o que se sabe e o que falta esclarecer sobre desabamento na BR-266 Ponte que desabou foi construída em 1960, passou por reparos em 1998 e precisava de novas obras; veja histórico da estrutura Superintendente do DNIT no Tocantins é afastado do cargo durante investigação sobre queda de ponte Acessos para balsas começam a ser construídos mais de 20 dias após queda de ponte; funcionamento segue sem prazo Empresa é contratada por R$ 6,4 milhões para fazer transporte de passageiros e veículos após queda de ponte entre TO e MA Consórcio de R$ 172 milhões é contratado para reconstruir ponte que caiu entre TO e MA Remoção de carros Após o desabamento, veículos que não estavam no vão central, mas em outras plataformas da ponte que não desabaram ficaram presos sem ter como seguir ou retornar para terra firme. Nesta terça-feira (21), o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) deu início à remoção desses veículos. Um dos proprietários chegou a entrar na Justiça Federal e conseguiu uma liminar ordenando que um carro preso em uma das fendas da ponte fosse retirado no prazo de dez dias. O DNIT afirmou que estão sendo feitos serviços preliminares e as equipes vão retirar o caminhão mais próximo da saída da ponte e, na sequência, os demais veículos. A expectativa concluir a operação de remoção até o final desta semana. Equipes do DNIT na ponte entre o Tocantins e o Maranhão Divulgação/DNIT Travessia sem balsa Como trânsito entre os estados do Tocantins e do Maranhão era intenso por meio da ponte JK, a falta da estrutura está ampliando o tempo de viagens por outras rotas. Desde o fim de dezembro existe a promessa de travessia por balsa, anunciada pelo menos duas vezes. Mas até o momento não há o serviço para os pedestres ou veículos. O DNIT afirmou que os acessos necessários para receber as balsas nas margens ainda estão em fase final de execução e que as equipes do Departamento atuam para atender as exigências da Marinha do Brasil para poder iniciar o serviço. A empresa PIPES Empreendimentos LTDA, que tem o serviço em outros locais do Tocantins, foi contratada pela União no valor de R$ 6.405.001,97 para fazer o serviço de travessia no local. No último mês, desde a queda da ponte, o DNIT orienta que os motoristas de veículos pesados e leves utilizem as rotas alternativas para viagem entre os estados. Já a respeito da nova ponte, a autarquia informou que o plano emergencial de trabalho já começou com a mobilização das equipes. Na segunda quinzena deste mês de janeiro terá início o plano de demolição. Em paralelo, as equipes atuam na elaboração dos projetos de engenharia para o início das obras. Teste com balsa aconteceu na sexta-feira, no Rio Tocantins TV Anhanguera/Reprodução Construção de nova ponte Logo após o colapso da ponte, o Ministério dos Transportes informou que outra estrutura será construída no local, para manter a travessia entre os estados. O anúncio foi feito em entrevista coletiva com a presença do ministro dos Transportes, Renan Filho, do governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa, do Maranhão, Carlos Brandão e autoridades dos dois estados. No dia 9 de janeiro, o DNIT informou ao g1 que as empresas responsáveis pela reconstrução fazem parte do Consórcio Penedo – Neópolis, constituído pela Construtora A. Gaspar S/A e Arteleste Construções Limitada. O prazo de entrega da obra é de um ano. Para a primeira quinzena de janeiro está prevista a demolição da estrutura que ainda está de pé. Mas a data certa não foi divulgada. Veja a previsão para as demais etapas: Entre março e junho - fase de infraestrutura; A partir de abril - obra entrará na etapa dos pré-moldados ou pré-fabricados, com previsão de conclusão em outubro; Entre abril e dezembro - superestrutura, fase que começará em abril e deve se estender até dezembro; Entre junho e setembro - fase de mesoestrutura; Entre novembro e dezembro - pavimentação e acabamentos. Momento da queda Vereador mostrava situação da ponte e flagrou momento da queda Pouco antes do desabamento da ponte que liga o Tocantins e o Maranhão, um vereador de Aguiarnópolis estava no local fazendo vídeos. Ele tinha o intuito de mostrar a situação da estrutura no momento que o asfalto cedeu e rachou. O vídeo foi publicado nas redes sociais do vereador Elias Junior (Republicanos). Andando pelo acostamento da estrutura, ele mostra rachaduras no asfalto. Segundo o vereador, sem manutenção, a ponte estava se deteriorando com o grande fluxo de veículos de carga que trafegavam diariamente por ela. De repente ele e outras pessoas que estavam no local escutaram barulhos e a ponte cedeu. Havia veículos atravessando o trecho entre os estados no momento da queda. É possível ver o momento que uma caminhonete passa por cima da rachadura e uma motocicleta consegue frear antes de entrar na ponte. O vereador disse que ficou em choque, em entrevista concedida ao g1 um dia após a tragédia. "A gente veio mostrar a situação que está preocupante. Muitas pessoas estavam falando sobre as rachaduras que tinham nela. Eu vim mostrar, só que não imaginava que naquele momento da filmagem a ponte ia cair. Eu ainda estou em choque, sem acreditar. Eu filmei para cobrar as autoridades competentes e foi bem na hora que caiu. A gente saiu desesperado com a mão na cabeça", relembrou o vereador. Ponte construída em 1960 A ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira servia de travessia entre os dois estados e foi construída para atender o corredor Belém-Brasília na década de 1960. Segundo documentos de uma inspeção feita em 2019 feito pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), houve uma recuperação estrutural entre os anos de 1998 e 2000, mas passados mais de 20 anos, a ponte apresentava diversos problemas. Com 533 metros de metros de extensão, a ponte fica localizada na rodovia BR-226. O g1 teve acesso a um documento referente a este edital de concorrência para reforma da ponte, que indicavam a necessidade de 'reabilitação' da estrutura e que ocorriam "vibrações excessivas e desgaste visual de suas estruturas e do seu pavimento". Servidores afastados A queda da ponte está sendo investigada pela Polícia Federal e orgãos de fiscalização. No dia 17 de janeiro, o superintendente do DNIT no Tocantins, Renan Bezerra de Melo Pereira, e outros três servidores da autarquia foram afastados dos cargos. A medida foi publicada no Diário Oficial da União e é referente à apuração do caso. Os afastamentos são pelo prazo de 60 dias, podendo ser prorrogados por igual período. Em nota, Renan Bezerra afirmou que recebeu com total respeito a decisão e que as 'apurações administrativas e judiciais demonstrarão que ele sempre exerceu com zelo, responsabilidade e legalidade a função'. Vítimas Lorena Ribeiro Rodrigues, de 25 anos, era natural de Estreito (MA) mas morava em Aguiarnópolis (TO). O corpo dela foi localizado no domingo (22); Lorranny Sidrone de Jesus, de 11 anos. O corpo dela foi localizado na terça-feira (24). Ela estava em um caminhão que transportava portas de MDF, que saiu de Dom Eliseu (PA) e que caiu no rio Tocantins; Kécio Francisco Santos Lopes, de 42 anos. O corpo dele foi localizado na terça-feira (24). Segundo a Secretaria de Segurança Pública, ele era o motorista do caminhão de defensivos agrícolas; Andreia Maria de Souza, de 45 anos. O corpo foi encontrado na terça-feira (24). Ela era motorista de um dos caminhões que carregavam ácido sulfúrico; Anisio Padilha Soares, de 43 anos. O corpo dele foi localizado na quarta-feira (25); Silvana dos Santos Rocha Soares, de 53 anos. O corpo dela foi localizado na quarta-feira (25); Elisangela Santos das Chagas, de 50 anos. O corpo dela foi encontrado por mergulhadores na manhã da quinta-feira (26). Ela estava em uma caminhonete, junto com o marido, o vereador Alison Gomes Carneiro (PSD); Rosimarina da Silva Carvalho, de 48 anos. O corpo dela foi localizado também na quinta (26); Alison Gomes Carneiro, de 57 anos. O vereador do PSD teve o corpo localizado na manhã de domingo (29). Ele estava na caminhonete com a esposa, Elisangela Santos, que também morreu na tragédia. Cássia de Sousa Tavares, de 34 anos. O corpo dela foi retirado do rio na terça-feira (31) e estava dentro de um veículo. Ela viajava com a filha, Cecília de três anos e o marido, Jairo Silva Rodrigues. Apenas ele sobreviveu a tragédia. Cecília Tavares Rodrigues, de 3 anos. O corpo dela foi retirado do rio na terça-feira (31). A menina viajava com a mãe, Cássia e com o pai, Jairo Silva Rodrigues. Beroaldo dos Santos, de 56 anos. Ele foi retirado da água no fim da manhã de quarta-feira (1º), segundo a Marinha. O corpo dele havia sido localizado no domingo (29), dentro da água, na cabine da carreta que transportava as 76 toneladas de ácido sulfúrico. Na manhã de sexta-feira (3), um corpo foi encontrado no rio Tocantins. Era o mototaxista Marçonglei Ferreira, de 43 anos, que trabalhava na região. Alessandra do Socorro Ribeiro, de 40 anos, natural de Palmas, no Tocantins. A identificação foi realizada em São Luís por meio de exame de DNA, realizado pelo Instituto de Análise Forense (IGF). Vítimas da queda da ponte que ligava o Maranhã ao Tocantins Arquivo pessoal Veja mais notícias da região no g1 Tocantins.

FONTE: https://g1.globo.com/to/tocantins/noticia/2025/01/22/um-mes-apos-queda-da-ponte-entre-to-e-ma-caminhoneiro-que-perdeu-esposa-fala-de-trauma-e-saudade-tentando-esquecer-essa-dor.ghtml


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