Militares comparavam 2022 a 1964 em mensagens para defender golpe de Estado; veja trechos
26/11/2024
Relatório da PF que detalha ações criminosas para promover um golpe de Estado no país foi tornado público pelo ministro Alexandre de Moraes e enviado à PGR nesta terça. Moraes envia pra PGR inquérito que indicia Bolsonaro e mais 36 por tentativa de golpe de Estado
As mensagens trocadas pelos militares investigados por tramar um golpe de Estado no país em 2022 usavam como referência, diversas vezes, um outro momento da história do país: o golpe militar de 1964.
O relatório da Polícia Federal nessa investigação, tornado público nesta terça-feira (26) pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, traz pelo menos três ocorrências dessa comparação.
Duas delas aparecem em mensagens do coronel do Exército Fabrício Moreira de Bastos – investigado como um dos autores de cartas golpistas que tentavam incitar a alta cúpula militar a aderir à ruptura.
"Velho, já passou da hora do BOLSONARO fazer alguma coisa. Estão avacalhando demais com ele. E de lambuja com todos os brasileiros. Velho, o cara tem as FA [Forças Armadas] nas mãos e por que permite tudo isso?", questiona em uma sequência de mensagens.
"Será que em 64 tínhamos um estado de avacalhação tão grande com a sociedade? Velho, manda prender todo mundo do TSE e do STF", prossegue, na conversa com o coronel Bernardo Romão Corrêa Netto.
Em resposta, Correa Netto diz que o Alto Comando do Exército ("ACE", na mensagem) "tem sido enfático nas afirmações de que devemos nos manter de fora das disputas políticas".
Bastos, no entanto, insiste na comparação.
"Duvido que em 64 esses esquerdistas tinham tanta liberdade de manobra como agora."
Mensagens em que militar compara 2022 a 1964
PF/Reprodução
'Em 64 não precisou assinar nada', diz Cid
A lembrança "saudosa" do golpe militar de 1964 aparece também em uma troca de mensagens entre o coronel Mauro Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, e o tenente-coronel do Exército Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros.
A dupla conversava sobre a falta de apoio dos comandantes ao plano antidemocrático – e avaliava que essa postura não deveria ser um impedimento para o golpe.
“Fomos covardes, na minha opinião”, diz Cavaliere.
Mauro Cid concorda. "Fomos todos, do PR [Presidente da República] e os Cmt F [Comandantes das Forças]".
"Em 64, não precisou ninguém assinar nada", completa Cid.
Mensagem enviada por Mauro Cid inquérito da PF
Reprodução
Menção em relatório anterior da PF
Menções ao golpe de 1964 também aparecem no relatório da PF para a operação Contragolpe, deflagrada na semana passada e igualmente relacionada aos planos para um golpe de Estado em 2022.
Desta vez, a citação é do general de brigada Mário Fernandes, classificado pela PF como "um dos mais radicais" do grupo golpista. Ele foi preso na última semana.
Segundo a PF, ele "promoveu ações de planejamento, coordenação e execução de atos antidemocráticos" antes das eleições de 2022. E citou o golpe de 1964 em uma reunião com Jair Bolsonaro, em junho daquele ano.
"Daqui a pouco nós estamos nas vésperas do primeiro turno, e aí, com a própria pressão internacional, a liberdade de ação do senhor e do governo vai ser bem menor. A população vai começar a acreditar que 'não, então tá tranquilo, o governo não tomou a medida mais radical, tá tranquilo'...", afirmou Fernandes na reunião.
"Então acho que realmente, nós precisamos ter um prazo para que isso aconteça e não, para que eles raciocinem que é importante avaliar essa possibilidade, mas principalmente, para que uma alternativa seja tomada, como o senhor mesmo disse, antes que aconteça. Porque no momento que acontecer, é 64 de novo? É uma junta de governo? É um governo militar? É um atraso de tudo o que se avançou no país? Porque isso vai acontecer. O país vai ser todo desarticulado", disse.